sábado, 28 de março de 2009

Fascinação

Eu não lembro o que ela disse, mas a gente se encontrou. Linda como sempre, beleza colossal. Loira reluzente, cabelos embocados, perfeitamente recolhidos e alinhados. Ela me abraçou. Senti sua pele de mármore e seu cheirinho primaveril, particular. Abraço mais confortador não há. Esperei tanto pelo reencontro. Mas, ela sempre fugia de mim ou dizia que ainda não era à hora; proferia palavras que soavam – ou eu entendia - como repreensão. Eu não me perdoava. Fui covarde, o amor me sucumbiu e evadi. Eu sabia que ela tinha todo o direito da dúvida ou do silêncio. Mas, ela é nobre, aliás, sempre foi. Nobre de alma e de elegância nata. Vestida de chita ou desfilando pérolas reinava como uma majestade. Foi ali, no mesmo cenário de sempre, marcado por poemas da infância e pelos móveis já desgastados que ela voltou a me sorrir e me beijou. O melhor beijo do mundo, o mais esperado. Quanta ternura, quanto amor por essa mulher. Conversamos na língua do amor, essa que dispensa tradução. O coração entende e diz amém.
Não poderia haver melhor reconciliação comigo mesma. Minha consciência acordou em paz. Essa noite estive com minha avó. Loucura ou imaginação para os incrédulos, objeto do meu inconsciente para os estudiosos agnósticos, o fato é que o amor transcende qualquer dimensão. Saudade do pão com queijo torrado, da fé inabalável em mim, da intuição herdada e praticada ao seu lado, das noites em volta do piano, das palavras sem pudor; saudade, minha querida. Obrigada pelo encontro, pelo toque acolhedor que eu tanto precisava. “Vai minha neta, vai ser grande na vida”. Seu desejo é uma ordem, vó.
...O sonho mais lindo - sonhei.