quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Amblose

A pílula diária contraceptiva introduz em meu corpo a dose incômoda de rotina. 23 h, o alarme soa e me faz lembrar que cada dia que se repete eu também me repito - e sou menos eu.
Sinto-me como um aborto cotidiano.

Palavras para Lisa, para Mim e para Nóia

Minha ansiedade é minha inércia. O medo me paralisa. O amor me paralisa. Essas palavras não são para Lisa, são para mim. Lisa não existe, ele não existe, ela não existe, mas eu sou ele, eu sou ela, sou todos, talvez não seja apenas eu, nem Lisa, porque Lisa não existe, eu existo, mas a minha existência me paralisa. Estou de volta, pessoas já não existem fora de mim, mas habitam o meu ser atemporalmente. Estou de volta, pessoas existem fora de mim, mas cultivam a eminência da desaparição dentro de mim. Eu, mim, dentro, fora, ele, ela, a vida me paralisa, e essas palavras não são para Lisa; muito melhor seria se fossem para ela. Mas, ela existe! Por que não são para ela? Porque ela não é Lisa, é a força da palavra, a regra gramatical, o pronome que se impõe. Melhor seria se Lisa existisse. A vida me paralisa, e Lisa não me pára porque Lisa tampouco é ela ou eu. Minha ansiedade é minha inércia e também minha loucura. O medo me paralisa. O amor me paralisa. Essas palavras não são para Lisa, são para mim – e para Nóia.