sexta-feira, 26 de setembro de 2008


Ainda não pensei em um conceito pra esse ensaio. Na verdade essa é uma de muitas fotos tiradas em sugestivos troncos de uma árvore secular, no meio da Reserva Sapiranga. Emilly que nesse caso foi a fotógrafa, também atuou de modelo junto à Tici. Debateremos, e logo postarei aqui um ensaio conceitual completo. Por enquanto a prévia da interação entre quatro corpos e muitos troncos.

Nessa foto, eu e meu primo Luquinhas.
Sem grandes inspirações, vou do que tá na boca do povo:
Seeeeeenta que é de menta.
Chuuuuuuuuuupa que é de uva.


Hahahahaha
Adoro a sabedoria popular.
Bom demais.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Dúvida capilar

Ela surgiu com um penteado diferente. Uma euforia tomou conta de mim. O efeito do que via era tão entorpecente que simulei uma visão.

-Finalmente ela mudou de coloração!

Ri por dentro, e fui tomado pelo sentimento de eficiência.

- Minhas palavras ecoam!

Por alguns segundos deixei a presunção de lado e dei saltinhos, um quanto ridículos, de comemoração. Percebi que a euforia adolescente ainda me pertencia, embora tenha levado muito tempo acreditando que isso fosse sinônimo de imaturidade.

Quanta bobagem.

A nuvem de digressões passou e logo voltaram os pensamentos raivosos.

Recordei o fora poético que havia levado, e a mensagem seca e irônica via tecnologia. Não podia ter sido de outra forma!? Desisti do martírio. Eu sempre soube que ela era moderna e sagaz.

Foi o suficiente para voltar a relativizar a vida.

Pensei.

Confrontei a excitação juvenil com a prudência adulta. Realizei que nem a primeira estava necessariamente relacionada à precipitação humana nem a segunda garantia o encontro com a sabedoria.

O impulso pode ser vital; a ponderação mortal. É uma questão de óptica.

Aos 21 anos aparentava uns cinco a mais (ao menos era o que diziam). Cheguei a escutar que tinha cara de rodado. Evidentemente me senti ofendido. Respondi com o de sempre.

– Já vivi muitas coisas.

Quis dizer muitas outras, mas não disse:

– Vai ver é porque já rodei meio mundo viajando.

Calei.

Uma vozinha interior do bem nocauteou o diabinho caricato de desenho animado que sempre faz questão de aparecer só pra polemizar e ver tudo em chamas.

Aos 21 reconheço que estava parado exatamente no meio do caminho diante de uma pedra impregnada de questões. Acho que na casa dos 20 todo mundo acaba se identificando com os clichês, ainda que não os assuma. Eu continuava precipitado, às vezes precavido – muito mais por indecisão do que por qualquer outra coisa -, quase tudo a minha volta me excitava, e apesar de um pouco menos atirado e um pouco mais contemplativo, continuei com o mau hábito da sedução banal, aquela sedução que mescla a necessidade de auto-afirmação e o excesso de libido.

Respirei fundo, encontrei apoio na inseparável barra de chocolate intercalada por tragadas aliviantes de Camel, e ainda que não houvesse desencarnado o cão brabo, voltei ao foco.

A rejeição tem dessas coisas. Desenvolve patologias no indivíduo.

Em frações de segundos enxerguei tudo àquilo que eu queria ver. Foi uma mistura de daltonismo e esquizofrenia. Pus as aulas de Semiótica em prática. Tudo nela me comunicava. O new look era um presságio de mudança. O frisado rompia com a convenção televisiva e levava um pouco de contravenção à sua lucidez adulta.

Dormiria bem. A Virgem das apresentadoras de tevê havia escutado as minhas preces.

Mas, as primaveras além de confundirem a soberba com autoconfiança, me trouxeram também a compulsão.

Não dormi por esgotamento tecnológico e pela expectativa da confirmação. Senti na pele o que é estar ligado à Rede. Essa palavra começou a ganhar conotação literal em minha mente. Tive enjôos, o pior, de mim. Ganhei escamas. Senti-me uma presa fácil. Fui fisgado por um profissional com 10 anos a mais de experiência, e em águas variadas – doce, salgada; pra ele era igual -. Pesca desleal.

- Por que cargas d’água troquei MSN com a garota da tevê?

Esse foi o mantra que me acompanhou por toda a noite até o momento do convencimento parcial de que todas as ferramentas da web eram superficiais e não serviam pra nada. Passei a odiá-las àquela noite. Minha decisão foi drástica. Apagão por toda a casa. Meus pais não entenderam nada. Embriagados pelo sono, os convenci de que faltara luz no bairro inteiro.

No dia seguinte a decepção chegou acompanhada de lição ao ego.

Ela não aderiu aos cachos, tampouco pintou o cabelo.

Tive raiva do meu próprio piercing.

Tudo não passou de um permanente provisório. Tão provisório que só durou um dia. Só ela era capaz de sintetizar extremos em seu capilar - mas, principalmente a cara de idiota dos outros.

-Simples e mais prático. Ela não gosta de mim.

Podia e tinha motivação suficiente pra romper com tudo, restou a quarta parede. Sempre fui fã de Brecht e do non sense. Aqui vai um conselho, daqueles que não têm o menor sentido, mas que ainda assim todo mundo faz questão de reler. Nunca peçam pra tirar foto com apresentadora de tevê. Aliás, nunca se aproximem delas.

É tudo mentira.

Quer dizer.

É tudo verdade.

Elas são irresistíveis e treinadas para simularem expressões de relevância a tudo o que você diz.

Você acaba se apaixonando, elas acabam com mais audiência.

Justo?

Dessa vez fica aqui o meu talvez.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Som na caixa, whisky e dendê para todos

Minha vida nunca foi subjuntivo.
Nunca gostei de subentrega, subtroca, subterfúgios.
Sempre preferi a mão firme, na coxa, sem palavra.
Sou do coração que lateja na boca; do gosto de sal do suor.
Pretérito pra mim só se for perfeito.
Minhas ações não pertencem a um futuro perturbado entre o passado irreal e a incerteza presente.
Sou do bem vivido, do bem amado, do gozo sem remorso.
Já fui e já voltei. Esgoto a linha do tempo.
Já gostei de xadrez; hoje prefiro dardos.
Provei da sinestesia mundana.
Tornei-me adicta. Menos mal.
Meu vício é simbiótico.
Tem cheiro de gente, certo toque de desilusão, e enzimas pró-risco.
Façamos um brinde aos inermes!
Convido-lhes ao banquete de possibilidades que é a vida.
Desculpem-me, senhores. Antes uma ressalva.
Sempre preferi os destilados.
Não que seja indício de um paladar mais refinado.
É que whisky pra mim é sagrado.
Tem um quê de alquimia, de elixir da vida.
- E pra comer, não tem nada?
Mais uma vez o perdão da palavra. O chef de cozinha é novo, e como tal sugeriu um novo prato. Chama-se Talvez.
- Comeremos então, Talvez?
Não, senhores. Talvez passou do ponto. Dessa vez o menu é acarajé, legítimo, como deve ser.
- Legítimo?
Sem mais explicações, Vossa Alteza está cansada.
Som na caixa, whisky e dendê para todos.

Verónika Méndez