terça-feira, 31 de maio de 2011

Horizonte

Sentou-se junto às rocas do mar aberto. Por alguns minutos sentiu-se feliz: foi capaz de ver o horizonte. Este, entretanto, não a conduziu a uma perspectiva futura. O contrário em absoluto. No seu mundo o perder de vista do horizonte se revelava retrospecto. Um retorno ou um avanço à origem. Nada de imensidão, devires ou novos lugares. O que via, desde as rocas, levou-lhe pra um lugar só seu. O imutável, o já realizado, a alegria conquistada, a tristeza superada, o primeiro passo dado, a primeira queda de bicicleta, o amor feito e gozado, o término e a reconciliação (consigo mesma, com o outro ou com ambos). Nesse lugar, tudo é pleno. O devir segue sendo devir, embora cristalizado, porque em algum momento assim o foi. Sorriu. Sentiu o frio cortante, mas não deixou de celebrar a presença do sol, ainda que tímida comparada à força do vento. Deu-se conta de que, às vezes, é preciso caminhar pra trás; mais que isso, pra dentro. O presente embora um presente se consome, se desfaz. O futuro não existe. É um segundo depois de agora que deixou de ser. Concluiu, então, que o passado tampouco é passado; que o passado é o horizonte e a vida um eterno recordar do viver.