sábado, 26 de fevereiro de 2011

ele cheirava para sentir-se próximo da morte; para que quando, então, seu coração disparasse profundamente, sentisse medo de morrer. assim, finalmente se perceberia inteiramente vivo e apegado a essa porção inexplicável e instintiva de manter o pulso pulsando, ainda que a vontade de partir o acompanhasse sempre.
pela primeira vez escreveu de cara à luz, tamanho era seu desejo de morte. já não necessitava a escuridão pusilânime, morreria às claras, ainda que depois regressasse ao opaco.
pela primeira vez, escreveu sem se preocupar com a grafia ou mesmo com a pontuação. as palavras correspondiam aos seus impulsos mais primitivos, a um suspiro ininterrupto. talvez, seu último suspiro. o mais libertador.
do pó para o pó. o regresso às origens. sentiria o amor da terra ou até mesmo experimentaria o calor do inferno. fora onde fosse, finalmente não estaria só.
pudera que a eternidade do elemento fogo lhe acompanhara, pudera que a eternidade do elemento ar fizera o mesmo. a ele não lhe importava. o importante era sentir-se vivo, ardendo em chamas ou flutuando e embreagando-se de ar.
de uma forma ou de outra finalmente seria etéreo e jamais desejaria morrer, tampouco renascer. ele simplesmente seria chama, pó ou ar.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

a sopa

04:35 da madrugada. comendo clarice, sua G.H, a barata e um prato de sopa não devidamente calentado no microondas. a sopa está fria, tal qual a barata e seus pedaços. oh! acabo de dar uma colherada e descubro que no centro está morno. minha tia avó dizia "vá comendo pelas beiradas"; ela já sabia que o fervor reside no núcleo.
minha vida anda gerundiando e transitando entre o frio e o morno. quero a quentura, mas não a do microondas. nele, sempre me equivoco na temperatura ideal. pensando bem, acho que na vida também.
a sopa de verduras (ou será de verdades?) acabou. o prato agora está vazio. eu também.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Espumante

Cuidado. Nem toda ficção é realidade e vice-versa.

-Posso tirar uma foto de vocês? Você assim, como ta. Com os seios de fora.
- Só saio assim se ela tirar a roupa também.
Simard. Eu a acabava de conhecer. Uma estranha familiar. O melhor sexo da minha vida.
- Não vou tirar a roupa aqui, mas posso tirar lá dentro, na espuma.
...
Foto literalmente composta. Ninguém mostrou nada. Mas, a gente espumou.

“Oui oui” gemia ela em meio a espuma que superava 2 metros a partir do chão; quase roçando o teto. Psicodelia, luzes incessantes e graves que vibravam pedaços de todos.

Era el Arena, Barcelona, Espanha. Um sitio de “ambiente”.
“Soplame la espuma, Bea, que no veo un huevo y me ahogo”.
-Oui Oui. I like you, girl.
-No me lo puedo creer que estoy echando un polvo delante de mi mejor amiga! Ah que te pones cachonda, Bea?!
-Hahahahaha, voy al cuarto oscuro!!! Solo pa echar una miradita!!!
-Espera, há mais duas mãos na minha calcinha!!! What a fuck is going on??? Saiam daqui!!!! Malhados babões!!!

- “Oui Oui”… Don´t stop!!! I like you girl!
- Wait, I wanna know you!
- What? My English isn’t good; just French!
- No hablo frances!!!
- What do you do in Canada?
- Im a teacher!!!
- Oh…interesting!!!
- Fuck me.
Ok. Linguagem corporal é sempre a melhor solução.
Tudo bem. Em meio à espuma e ao som inebriante, parede também é a melhor solução.
Coladas, ali no meio da espuma, com uma amiga na retaguarda fazendo a segurança, a professora de Quebec resolveu abandonar os shorts e o cigarro que levava em meio aos seios. E assim prosseguiu. Rasgou ferozmente parte de meu vestido e não satisfeita o conduziu até o chão. Surrealismo? Não. Realismo fantástico, como diz o meu pai.
-“Oui, oui”.
- Bea, me muero. Dios mio, sigue soplandome que me estoy volviendo ciega.
- Vero, hay un tio asqueroso al lado haciendose una paja.
- Me cago en Dios!!! Nos está echando mano!!!
- Vete de aquí, cabron!!!
- Bea, me estoy enamorando y un poco mareada.
- Y yo estoy cachonda.
- Metete en el medio.
- Hahahahaha. Que guay. Estan todos follando. Pero, tengo a Matilde. No quiero.
- Sigue soplandome, entonces.
- Ai, gostosa. Ai ai, ai está bom.
- “Do you like at this way”?
- Yeah…
- Bea, me corro y me muero!!! Ah.....Ah....
Gozei. E me afoguei na espuma.
- Bea, rescatame. Levantame. No tengo fuerzas.
Risas colectivas.
Nos abrazamos. Signo torto, quase equivocado, pensei que fosse o princípio de uma bela história.
- It was amazing. Now i have to go.
- Wait. What´s your name? Give me your email, facebook, anything.
-Simard.
Um beijo frio nas maças faciais e um adeus. Lá se foi a loira, de olhos azuis, de mochilão “sabático” pela Europa querendo comer-se ao mundo. Tudo bem. Eu também já havia provado do mundo.
Bea insistia no quarto escuro.
- Estás loca? Si entras no sales entera de ahí.
- Te quiero, Bea. Eres mi mejor amiga.
Unas “dosis” más de whisky. Hahahaha. Piada interna.
E lá nos fomos. Eu e Bea molhadas e cheias de espumas e realidades surreais pro currículo. Nenhum taxi queria nos levar pra casa. “Era muita encharcação”. Cruzamos quarteirões na madrugada, descalças, molhadas, mas felizes.
Encontrei a professora na rede. Mas, era apenas mais uma estrangeira de direitas que quando sai do país aproveita pra fazer a “esbórnia” fora de casa e logo regressa a sua rotina “puritana”.
A obsessão durou algum tempo. Mas, é sempre assim. Logo passa.
Restamos eu e você, minha amiga irmã, Bea. E Matilde, é claro, seu amor. Grande amiga. Não há “chocho’” que transcenda uma bela amizade.
Mas...o Arena segue ali, a nossa espera. E outras tantas aventuras.
Tudo bem, professorinha. Você tem seus méritos. O sexo espumante até hoje foi o melhor.