sexta-feira, 15 de outubro de 2010

hoje tomei o ultimo lexotan da cartela. nao tenho mais receita. foi o último do último depois de desaparecer de minha psicanalista e conseguir falsificar a data de umas antigas requisiçoes por mais 3 meses; até agora que acabou.

eu estou só, numa pequena casa de um casal de amigos que todos os finais de semana vai para outra cidade e me deixa aqui em Vista alegre, um bairro na zona norte de Compostela e que de alegre só tem o nome.

meu quarto é quadrado, de paredes amarelas, à mesma altura da rua. qualquer um poderia entrar nele, por isso sempre durmo com as janelas fechadas e só com um trocinho de persiana aberta. acho que essa é a décima-primeira casa que oficialmente me instalo desde os três anos e meio atrás em que sai da casa de meus pais.

Vista alegre é bastante afastado do centro o que dificulta o meu contato com o mundo exterior e com muitos amigos. entao, eu aproveito a circunstância pra desculpar o meu isolamento e assim poder me isolar ainda mais.

ando bastante adoentada, gripe sintomática, reflexo de uma mente pertubada e insegura. vista alegre está em obras, e apesar de todos os dias reclamar da falta de respeito da prefeitura em autorizar obras de madrugada, no fundo estou adorando dita transgressao, porque diariamente os tratores e obreiros têm acompanhado a minha insônia e preenchido de ruídos a minha solidao.

eu sempre fui assim; sempre gostei de dormir escutando o barulho da rua pra nao me sentir só; meu quarto parece povoado por estranhos que se confundem com os conhecidos dos meus sonhos.

aqui, em Vista alegre, de frente pras paredes amarelas penso nas possibilidades incertas - e algumas impossíveis - de minha vida e lembro de como meu amor pela Espanha só cresceu principalmente depois daquele encontro na janela do carro em Pontevedra, depois de duas horas de show.

olhei pra você e me senti em casa. tive a sensaçao de finalmente haver encontrado o meu lugar, o aconchego, o reconhecimento de mim no outro, o espelho em que narciso nao se vê - em que ele fecha os olhos e deixa de ser para entao só ser.

aqui, em Vista alegre, penso diariamente em você e, como talvez o seu simples existir (fosse ou) seja o milagre de minha vida, o bom motivo pra eu nao regressar à casa porque minha casa é você. e na verdade, é assim que eu me sinto. uma eterna marinheira, navegante, nômade - sem bússola, refém do vento e da maré. talvez, necessite atracar em ti ou talvez a minha embarcaçao necessite ser tripulada.

mas, você, a Espanha, a comunhao e o palco sao apenas mais um amor platônico.

por hora, fico com a realidade das paredes amarelas de Vista alegre que entonam a minha febrícula - e que pouco a pouco vou aprendendo a amar, até que chegue a hora de partir, uma vez mais-; e com a minha solidao - sim! porque os tratores já nao soam mais.

4 comentários:

Bea disse...

En mi vida siempre habrá un antes y después de Verónica. No viene a cuento con lo que escribiste, pero quería que lo supieras. Me alegro de haber sido la primera persona de todas en haberte visto tan especial.

Y no te asustes si sientes soledad, eso es sano, incluso necesario. Pasan la vida enseñándonos a ser seres sociales y resulta que, de mayor, muy poca gente sabe estar a solas consigo misma.

No tengas miedo, mi Vero. Acuérdate de que "Tú eres como el junco, que se dobla, pero siempre sigue en pie". Si todos te quisieran, no nos sentiríamos tan especiales quienes te queremos tanto.

Un besiño desde Barcelona,

Bea

Unknown disse...

adorei seu jeito de escreveeeer !
deixe de isolacionismo e venha sempre aqui na nossa casa.

beijos meu tesao =*
amo-te !

Tiko disse...

Tou com peso na consciência por ter me deixado vencer pela preguiça (e pela sua teimosia em querer se isolar), e nao ter pegado essa bicicleta, vencido os buracos e estradas de terras OFF-ROAD q viraram as ruas de Vista Alegre, e ter ido praí algumas vezes nesses ultimos dias, pra te azucrinar a paciência e te desassossegar ainda mais q esses obreiros daí... auheuaheauheae vc eh uma onda vuh dodjona?!

Ana P. disse...

"uma mente pertubada e insegura" e qual humano não padece?
Sorte daqueles que tem "alma de artista" para transfigura-la -mente- em palavras e sentimentos, libertando-a da clandestinidade do ser.

navegue...